Olhe com muita atenção a fotografia que abre esse texto.
Diga se você identifica algum padrão que não seja o do desleixo e do descaso.
Essa imagem não foi captada em nenhum bairro abandonado ou dentro de uma floresta.
Foi na zona urbana mesmo.
Pode parecer não crível, mas é imagem de toda uma parte do muro do Condomínio Chácara Ipê, um dos considerados mais chiques de Rio Branco.
A diferença, no entanto, é que não fica de frente para o Parque do Tucumã, onde passam centenas de pessoas diariamente.
Está voltado para a região do Bairro Calafate, do Conjunto Jequitibá.
Como pode ser observado ao longo de todo o entorno do condomínio, pode haver tudo no muro, menos padronização.
Cada morador faz o uso do muro como bem quer. Essa é a realidade.
Há quem use o espaço como parede da sua casa.
Mesmo diante de uma realidade diferente, por incrível que possa parecer, a Justiça acreana, em nome dessa suposta padronização, determinou que o casal Edvaldo Magalhães e Perpétua Almeida retire do muro da sua casa as obras de grafite executadas no local.
Lamentavelmente, a decisão foi tomada sem o conhecimento pleno de como as coisas são e acontecem.
Essa é uma quizília que vem se arrastando desde 2017, que teve uma decisão da Câmara Cível na semana passada.
A julgadora olhou para a letra fria da lei. Certamente desconhecendo que o condomínio introduziu a tal padronização no estatuto depois da polêmica gerada com as pinturas, numa Assembleia esvaziada.
Há todas as características de litigância de má fé. Uma simples perícia de olhar constata que não há padrão.
Em meio a toda polêmica, a verdade é que, ao decidir valorizar os artistas locais e manifestar publicamente as suas preferências políticas, artísticas e amazônicas, o casal “agrediu” a quem está contaminado pelo ódio insensato e doentio.
Transformaram a arte em bandeira política conservadora.
Quem moveu a ação tem sérias dificuldades de conviver com o contraditório.
São pessoas que convivem tranquilamente com o matagal no seu quintal, mas se ofendem com a imagem de Chico Mendes e Hélio Mendes.
São agredidos com os revolucionários Ernesto Che Guevara e Frida Kahlo, mas acham normal quem defende a população armada.
São pessoas que não se inspiram com a musicalidade de Belchior e Chico Buarque.
São infelizes.
Edvaldo Magalhães e Perpétua Almeida não são de desistir fácil.
Devem levar o caso para instâncias superiores.
Podem propor um embargo e levar a defesa dos grafites e grafiteiros ao STJ.
Viva a arte!
A arte que incomoda.