Inteligência Artificial para 2024 e seus desafios futuros

Por Francisco O. D. Veloso*

Aconteceu, entre 15-19 de janeiro, o Fórum Econômico Mundial 2024, em Davos, Suiça.

Guerras e conflitos fizeram parte da agenda de discussões, mas houve um tópico que atravessou todas as reuniões e discussões: o desenvolvimento de tecnologias com o emprego de inteligência artificial.

A Reuters, por exemplo, resumiu as discussões sobre inteligência artificial da seguinte forma:

As conversas sobre IA ecoaram nas salas de reuniões e paineis de Davos, suas promessas fora promovidas amplamente e seus riscos de segurança foram invocados pelo primeiro-ministro da China. Enquanto as conversas incluíam como regular a tecnologia em crescimento e como aplicá-la à descoberta científica, a questão de como monetizá-la persistia. “Todos estão tipo, sim, posso construir esses aplicativos demonstrativos legais”, disse o CEO da Cloudflare (NET.N), Matthew Prince, “mas onde está o valor real?” (traduzido com o uso de inteligência artificial e significativamente melhorado por um humano)

A revista inglesa The Economist promoveu, no dia 17/01/24, uma entrevista exclusiva com Sam Altman (OpenAI) e Satya Nadella (Microsoft) sobre os avanços em inteligência artificial que podemos esperar para o ano de 2024. Os dois participaram, ainda, de uma série de reuniões individuais para debater o tema.

A OpenAI, só para lembrar, é a empresa responsável pelo aplicativo ChatGPT, que foi lançado no final de 2022, provocou uma corrida no lançamento de produtos semelhantes pela concorrência e no desenvolvimento de novos produtos em IA, principalmente do tipo ‘gerativo’ – estes aplicativos que geram texto, imagem e sons a partir de comandos de linguagem.

A Microsoft dispensa apresentações, pois faz parte da história do desenvolvimento da ciência da computação e a popularização da internet nas nossas vidas. Desde o onipresente Word até o MSN que, embora tenha caído em desuso, contribuiu para a construção de uma cultura online (do bate-papo instantâneo) e o desenvolvimento de novas tecnologias. A Microsoft tem investido pesadamente em IA e os resultados já deram sinais: pode ultrapassar a Apple como companhia mais valiosa do mundo, em breve – já tem demonstrado vigor em relatórios trimestrais.

Voltando à IA, foi perguntado a Altman e Nadella qual seria a ‘grande novidade’ em IA para este ano. Ambos os entrevistados foram categóricos em afirmar que não há, no futuro próximo, o planejamento de um novo aplicativo específico, algo ‘midiático’.

A grande expectativa para 2024 é sobre a capacidade de comunicação e resposta de IA gerativa, que será melhorada significativamente, independente do lançamento de um ChatGPT 5.0, por exemplo. IA irá melhorar significamente em todas as áreas.

Um dos focos atuais é o desenvolvimento de AGI (artificial general intelligence, ou inteligência artificial geral). O AGI seria um programa que consegue raciocinar e usar a linguagem tão bem – ou melhor – que um ser humano.

Uma das preocupações é como este tipo de inteligência artificial pode afetar a sociedade além de mudanças rotineiras. Novas tecnologias significam transformação do trabalho, o que inclui novas rotinas e capacidade de realizar tarefas mais complexas, o surgimento e desaparecimento de profissões.

Existe um certo pânico sobre a reconfiguração do trabalho e profissões, mas devemos lembrar que a revolução industrial não acabou com o trabalho, mas o transformou.

Nas universidades, precisamos pensar no longo prazo e identificar quais são as profissões que serão mais afetadas, para planejar ajustes no currículo de cursos já existem e pensar em como atender necessidades contemporâneas e para o futuro próximo e a longo prazo. Temos a dificuldade em acompanhar novas tecnologias porque elas se desenvolvem em um ritmo que impõe desafios à universidade em termos de pesquisa, ensino e transferência de conhecimento. Precisamos estar atentos a esses desafios e isso requer identificar, pensar e implementar soluções. Este é o papel da universidade.

Uma aposta segura hoje é investir em profissões criativas que podem fazer uso de IA mas que não dispensam o potencial humano. Pelo menos por enquanto, IA responde a comandos (os prompts) e precisamos de novos profissionais capazes de lidar com novas tecnologias de forma mais orgânica. Existem discussões e dúvidas se IA gerativa conseguirá criar algo de fato ‘novo’, porque a sua capacidade de produção de linguagem consiste em repetir, de forma ‘original’, aquilo que já existe.

Precisamos pensar, na UFAC, através de grupos e fóruns de discussões em todos os níveis, com uma Reitoria presente e capaz de articular e liderar ações para atender a este futuro tecnológico inevitável.

Os rumos de uma instituição de pesquisa precisam, em um esboço geral, vir de cima, ou continuaremos atomizados como já estamos. Cada um trabalhando individualmente, em ambiente insalubre e com séria crise de confiança permeando as relações profissionais, que podem ser altamente tóxicas e perigosas, inclusive. Tenho processos parados na Comissão de Ética/UFAC já tem mais de um ano – um deles já se arrasta por dois anos. Ou seja, o ambiente parece não ser, hoje, propício para um movimento coordenado, mas sempre se pode mudar os rumos das coisas.

Precisamos de governança.

Atualmente estamos correndo atrás de um prejuízo, reparando a ausência de iniciativas ousadas quando havíamos recursos nos tempos do Lula 1.0: abrindo cursos que já são ofertados em outras instituições (como o IFAC) e que estão no meio do caminho de transformações em IA.

Instituições superiores de ensino e pesquisa locais precisam compreender que o novo mundo da inteligência artificial já chegou e vai causar transformações profundas no modo como fazemos as coisas e como nos relacionamos. Basta ver o impacto da Web 2.0 – desenvolvimento tecnológico que permitiu ao usuário criar conteúdo e deu início ao fenômeno das ‘redes (nada) sociais’, com enorme impacto na sociedade contemporânea.

* Francisco O. D. Veloso é professor/pesquisador no Centro de Educação, Letras e Artes (CELA-UFAC). Possui Doutorado em Linguística Aplicada/Inglês pela UFSC. Foi professor na Universidade Politécnica de Hong Kong (Hong Kong SAR), Professor Visitante na Universidade de Modena e Reggio Emília (Modena, Itália) e professor na Universidade de Bologna (Bologna, Itália). IG: fveloso.

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