VIDEO – Sobre tragédia americana, brasileira e abutres depois da tempestade.

https://www.instagram.com/reel/C6tyhOdOxWm/?igsh=OGRoamZqa29wdDN5

 

 

No verão de 2004, o furacão Charley, pôs-se a rugir no Golfo do México e varreu a Flórida até o Oceano Atlântico.

 

A tempestade, que levou 22 mil vidas e causou prejuízos de 11 bilhões de dólares, deixou também em seu rastro uma discussão sobre preços extorsivos.

 

Em um posto de gasolina em Orlando, sacos de gelos de dois dólares passaram a ser vendidos por dez dólares.

 

Sem energia para refrigeradores e ar-condicionado em pleno mês de agosto, verão no Hemisfério Norte, muitas pessoas não tinham alternativa senão pagar por mais pelo gelo.

 

Árvores derrubadas aumentaram a procura por serrotes e consertos de telhados.

 

Prestadores de serviços cobraram 23 mil dólares para tirar duas árvores de um telhado.

 

Lojas, que antes vendiam normalmente pequenos geradores domésticos por 250 dólares, pediam 2 mil dólares.

 

Por uma noite em um quarto de motel, que normalmente custaria 40 dólares, cobraram 160 a uma mulher de 77 ano, que fugia do furacão com o marido idoso e uma filha deficiente.

 

Muitos habitantes da Flórida mostraram-se revoltados com os preços abusivos.

 

“Depois da tempestade vêm os abutres”, foi uma da manchete do USA Today.

 

Um morador, ao saber que deveria pagar 10.500 dólares para remover uma árvore que caíra em seu telhado, disse que era errado que as pessoas “tentassem capitalizar às custas das dificuldades e da miséria dos outros.

 

Charles Crist, procurador-geral do Estado, concordou.

 

“Estou impressionado com o nível de ganância que alguns certamente têm na alma, ao se aproveitar dos outros que sofrem em consequência de um furacão”.

 

A Flórida tem uma lei contra preços abusivos e após o furacão, o gabinete do procurador-geral recebeu mais de duzentas reclamações.

 

Entretanto, quando Crist exigiu o cumprimento da lei sobre preços abusivos, alguns economistas argumentaram que a lei – e o ultraje público – baseava-se em equivoco.

 

Nos tempos medievais, filósofos e teólogos acreditava que a troca de mercadoria deveria ser regida por um “preço justo”, determinado pela tradição ou pelo valor intrínseco das coisas.

 

Mas, na sociedade de mercado, observaram os economistas, os preços são fixados de acordo com a oferta e a procura.

 

O que falei até agora não são palavras minha.

É um trecho extraído do livro “Justiça, o que é fazer a coisa certa”, de Michael Sandel.

 

Lembrei de buscar argumentos neste clássico diante da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

Os abusos e extorsões são os mais variados.

 

Vão do aumento absurdos dos preços, da falta de produtos básicos como água potável, propagação de fake news e até assaltos.

 

As pessoas defensoras do livre mercado se esquecem que, numa situação de emergência e tragédia, os compradores coagidos não têm liberdade de escolha.

 

A compra de artigos básicos e a busca de abrigo seguro são algo que lhes é imposto.

Nessas situações, a sociedade se depara com graves questões sobre moral e lei.

No mesmo livro, Sandel cita Aristóteles ao dizer que o filósofo grego ensina que a justiça significa dar às pessoas o que elas merecem.

 

E para determinar o que merece o quê, devemos estabelecer quais virtudes são dignas de honra e recompensa.

 

Quem explora a desgraça alheia está longe de ter honra e muito menos de merecer recompensa.

Não sou economista, muito menos defensor de que tenhamos menos governo e mais mercado.

No fim da contas, é o governo que estende as mãos à toda sociedade.

E assim deve ser.

Mesmo os abutres vindo a cada tempestade.

 

Antes de finalizar, sugiro que leia este e muitos outros livros.

Ler liberta, principalmente da falta de informação e muita desinformação que habitam os cercadinhos de WhatsApp.

 

A tragédia na Flórida vai completar 20 anos em agosto.

 

De lá para cá, as coisas só pioraram…

Fui!

Um forte abraço e um cheiro do Rosas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *