Ídolo do governador do Acre, Jair Bolsonaro não dá valor aos estudos e à educação.
Mas estudar é bom, muito bom.
Se tivesse estudado, por exemplo, a assessoria de Gladson Cameli poderia ter escolhido desculpas mais bem elaboradas para justificar o passeio que o chefe do Executivo acreano foi fazer em Dallas, no estado americano do Texas.
Segundo Cameli e a sua assessoria, o grande trunfo que o governador levou em mãos para mostrar aos americanos é a viabilidade do comércio com a América do Sul, com o fluxo de mercadorias saindo e entrando pelo Pacífico, através dos portos de Illo e Matarani, no Peru.
Essa é o tipo de história que os americanos estão cansados de saber e nunca demonstraram interesse por essa rota.
O Texas, se fosse um país, estaria entre as dez maiores economias do mundo.
Mesmo assim, Cameli fez divulgar que pretende apresentar o potencial de produção atual do Estado, levando como destaque o abate de 14 mil frangos por dia e os embutidos da indústria Dom Porquito, que chegam hoje à produção de 15 toneladas diárias.
Sem desmerecer a indústria acreana, a nossa produção está longe de atrair os olhos dos americanos.
Ainda estamos capengando para tentar viabilizar a exportação para o Peru e a Bolívia, bem aqui ao lado do Acre.
Um dos problema do mercado americanos é justamente a superprodução de carne de frango, o que tem levado a preços internos baixos e altos níveis de armazenamento a frio.
Isso significa que o mercado precisa se reequilibrar até que as coisas voltem a tomar direção positiva.
No tocante à carne suína, a complicação é ainda pior.
Há uma disputa porque os produtores e exportadores brasileiros querem reciprocidade.
Os Estados Unidos podem exportar para o país, mas eles querem que todos os estados brasileiros produtores sejam aptos a colocar carne nos Estados Unidos.
Atualmente, apenas Santa Catarina pode exportar, mas a quantidade é pequena.
A abertura do mercado brasileiro de suínos para os americanos é um perigo, não pela concorrência, mas por problemas sanitários.
Os Estados Unidos convivem com a ocorrência de várias doenças no setor, inclusive a diarreia suína e a peste suína africana.
Já o Brasil não tem problemas sanitários relevantes.
A parte mais risível do que foi divulgado sobre a suposta agenda de negócios de Gladson Cameli é sobre a pecuária.
Cameli, segundo a assessoria, foi mostrar aos empresários americanos que o Acre é hoje o terceiro produtor de rebanho bovino da Região Norte, com um ranking sempre crescente.
Vai passar vergonha.
O estado do Texas é o segundo maior produtor de carne bovina dos Estados Unidos.
Tem um rebanho próximo aos 100 milhões de cabeça. O rebanho do Acre gira em torno de três milhões.
Além disso, o Brasil não tem licença para exportar o produto para território americano.
Os Estados Unidos ficaram de mandar uma missão técnica e sanitária para avaliação das condições brasileiras de produção de carne bovina.
Só depois vão avaliar se abrem ou não o mercado dos EUA para a carne “in natura” do Brasil.
Gladson Cameli não tem nem agenda oficial com os empresários.
Poderia ter dito simplesmente que recebeu o convite de Bolsonaro e resolveu ir.
Ficaria menos feio.
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