Nos dias 13 a 17 deste mês no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, foi realizado a “Mostra Ameríndia” que, além da exibição de filmes, inclui um ciclo de conversas e debates.
De acordo com a organização a mostra emergiu do interesse de um grupo de pesquisadores/as, programadores/as culturais e ativistas em aprofundar o contributo do pensamento e cinema ameríndios, especificamente dos povos indígenas que vivem no Brasil, para a sociedade contemporânea.
O filme de abertura, “Já me transformei em imagem”, de Zezinho Yoube, no qual se abordam questões “que vão desde o primeiro contato do povo Huni Kuî com os brancos até ao trabalho atual com o vídeo, plasmando o modo como a produção de imagem é vivida por este povo”, é “uma peça central de toda a programação”.
Em Bimi, Shü Ikaya (2018), de Isaka Huni Kuî, Siã Huni Kuî e Zezinho Yube , ao mesmo tempo em que somos convidados a conhecer a força de Bimi – mulher-pajé que rompe a tradição do povo Huni Kuî de não iniciarem mulheres no xamanismo, tornando-se uma importante curadora deste povo –, somos também conduzidos por uma outra história, que num registro reflexivo, nos é contada ao mesmo tempo em que a testemunhamos: a da transformação da câmera de vídeo e da linguagem cinematográfica em elementos da cultura dessa etnia.
Se por um lado o reconhecimento da sabedoria de Bimi norteia uma narrativa principal, de registro dos cantos, gestos e depoimentos da pajé, há o entrelaçamento de uma narrativa subjacente que reflete e afirma a assimilação do cinema como instrumento de afirmação e transmissão dessa cultura para as próximas gerações.
TEASER – BIMI, SHU IKAYA from Saci – Conteúdo em Movimento on Vimeo.
“O audiovisual está bem avançado tem bastante produção indígena tanto no Acre, quanto no Brasil, além de ser uma ferramenta de intercambio, de divulgação é arte. Nossa ida até Portugal foi muito positiva”, disse o cineasta Huni Kuî, Zezinho Yoube.
A Mostra Ameríndia: Percursos do Cinema Indígena no Brasil, realizada no Coleção Moderna do Museu Gulbenkian, traz um recorte de um múltiplo e diverso cinema, feito por realizadores indígenas, desconhecido ainda para tantos de nós. Embora muitos dos filmes tenham sido premiados em mostras específicas mundo afora, estas mostras têm visibilidade relativa, daí a importância de que cheguem em festivais centrais e possam ganhar mais e mais espectadores e visibilidade.