Ainda estou aqui”, um filme para não esquecermos o mal que faz uma ditadura

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Olá, vamos porongar?

Vou falar de cinema.

Segunda-feira à tarde fiz algo que há um bom tempo não fazia: ir ao cinema.

E valeu muito a pena.

O filme se chama “Ainda estou aqui”.

Dirigido por Walter Salles e tendo a atriz Fernanda Torres como protagonista, o filme é um passeio por uma página infeliz da nossa história: a ditadura militar instalada no Brasil em abril de 1964.

O filme é a adaptação do romance homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, também autor do clássico Feliz Ano Velho.

O autor do livro é filho do arquiteto e ex-deputado Rubens Paiva e da advogada Eunice Paiva.

Trata-se de um drama familiar, que pode ser estendido à milhares de famílias que tiveram os seus direitos sequestrados pelo regime ditatorial dos militares, que mandaram e desmandaram no país durante longos 21 anos.

Certo dia, em 1971, militares invadiram a casa de Rubens Paiva e levaram-no para depôs no DO-CODI.

Disseram que seriam apenas um depoimento, mas ele nunca mais voltou para casa.

Nos porões da ditadura foi torturado e assassinado, o seu corpo nunca foi encontrado.

Rubens Paiva morreu covardemente.

A luta de criar cinco filhos menores caiu no colo da sua esposa, Eunice Paiva.

Que mulher de fibra…

Dedicou a sua vida a criar bem os filhos e, aos 48 anos, concluiu o curso de direito.

Tornou-se referência na defesa das causas indígenas e dos direitos humanos.

Mas manteve acessa a luta pela memória do esposo.

Ela também foi presa pela ditadura, junto com uma filha de 15 anos.

Fez do sofrimento uma couraça para lutar contra a ditadura militar.

Ela e os seus filhos foram vigiados de 1971 a 1984.

Somente em 1996, após 25 anos de luta permanente pela memória do esposo, conseguiu com que o estado brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito do esposo Rubens Paiva.

Ao receber o documento, Eunice Paiva declarou com os olhos cheios de lágrimas e com o sorriso no rosto:

“É uma sensação esquisita sentir-se aliviada com uma certidão de óbito”.

O fato aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, que também foi perseguido no regime militar.

Nesse momento em que impera a desinformação, e tem até quem defenda a volta do regime militar, Ainda estou aqui é filme para ser visto e revisto.

Os jovens, da geração tiktok, precisam compreender que não queremos o passado como era em nem o presente como está.

É fundamental ter a noção de que a democracia é um bem da sociedade inegociável.

Falar essas coisas seria chover no molhado, se  o molhado não fosse banhado do sangue de pessoas como Rubens Paiva.

Digo que os jovens devem assistir a partir do relato de um amigo quando chegou ao cinema.

Ao comprar  o ingresso, o meu amigo foi surpreendido com a atendente, que perguntou:

“Esse filme que o senhor vai assistir é sobre o quê?”.

Atônito, ele respondeu:

“É, dentre outras coisas, sobre a ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964”.

A moça voltou a indagar:

“E isso existiu?”.

Fecha o pano.

Eunice Paiva morreu sem memória, conviveu contra o alzheimer por mais de uma década.

Sua história foi contada no livro escrito pelo filho Marcelo Rubens Paiva.

O filme vai eternizar a sua trajetória.

Infelizmente, a nossa sociedade caminha para o triste Alzheimer da história.

Existem coisas que não podemos nos esquecer.

Nesse contexto, a Comissão Nacional da Verdade,  criada no governo de Dilma Rousseff, que também foi torturada, cumpriu papel fundamental para conhecermos os absurdos cometidos contra nos porões da ditadura.

Ditadura nunca mais!

Fui.

Um forte abraço e um cheiro do Rosas.

Vida que segue.

A coluna escrita está no portaldorosas.com.br.

Tchau.

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