O que está em jogo na disputa entre a juíza Luana Campos e o Iapen é o cumprimento da lei

Todo ser humano é movido por narrativas. Esse é um fato concreto.

Dito isso, cabe entrar no tema que vem tomando conta da mídia nos últimos dias, que é a quizília entre a juíza da Vara de Execuções Penais, Luana Campos, a direção do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) e a Secretaria de Justiça e Segurança Pública.

Mulher inteligente, a magistrada logo percebeu a construção de uma narrativa para lhe deixar mal perante a opinião pública.

E foi para o ataque.

Um leigo que acompanha os fatos apenas pelas narrativas não terá dificuldades para tomar partido para o lado dos representantes do governo.

Isso é perfeitamente compreensivo.

Vivemos tempos difíceis e de violência extrema. O medo fez morada nas vidas de todos os cidadãos.

Há setores importantes e majoritários na sociedade que exigem medidas mais duras e radicais contra aqueles que cometem crime.

Quando resolvem endurecer contra os presos no sistema penitenciário do Estado, os órgãos governamentais, de pronto, ganham a simpatia da sociedade.

Estão dialogando com um sentimento latente do conjunto da população.

Quem ousa questionar as atitudes, é hostilizado e tachado de apoiador do crime.

Mas esse diálogo não autoriza a desrespeitar o trabalho de uma juíza que tem dado a sua vida para humanizar e tentar socializar os marginalizados sociais.

Se for feita uma pesquisa, com a exceção dos parentes próximos, ninguém gosta de bandido.

Tenho certeza de que a própria Luana Campos não tem a menor simpatia por quem comete crimes.

Mas o debate aqui não é sobre quem gosta ou não gostar. É sobre cumprimento de lei.

A pretexto de agir com rigor contra os presos mais perigosos, a direção do Iapens não pode criar leis próprias, desrespeitando a Lei de Execuções Penais. É só isso que se discute.

Há consenso que é fundamental e imperioso que haja mudanças profundas na legislação, mas parece haver uma falta de vontade da classe política, dos legisladores para fazer as transformações.

Perde a sociedade quando agentes públicos e políticos tentam usar instrumentos subterrâneos para desmoralizar uma representante do Judiciário.

Perde a sociedade quando uma magistrada faz acusações graves contra esses mesmos agentes públicos sem quem os superiores tomem as devidas providências.

Repito que nesse debate sobre Luana Campos e os representantes do governo não entra em campo o gostar ou não gostar. O que está em jogo é o cumprimento da lei. Só isso.

Por fim, destaco que o vice-governador Wherles Rocha é o comandante das forças de segurança.

Rocha está calado.

Deveria procurar o diálogo institucional, pois há muita gente querendo apagar fogo com gasolina.

É o que acontece dentro dos presídios tem consequências no lado de fora.

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