Se depois do que for relatado aqui, os órgãos de controle nada fizerem, restará a certeza de que estão adormecidos ou anestesiados de propósito.
Chegou ao Espinhoso editor deste Portal vasta documentação que aponta para indícios de um esquema que está lesando o erário, bem como o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS)
Para situar o leitor, iremos transcrever dois áudios de um dos médicos anestesistas envolvidos na trama.
Os nomes serão preservados.
Áudio 1: “Galera, se atente nas divisões da Maternidade, tá? Para não dar furo e não confundir. Ver direitinho. Maternidade, duas pessoas. Sábado…. ( nomes do médicos). Quem vai fazer o plantão sempre será o primeiro. Sempre o primeiro está no plantão das doze horas. A gente divide assim para poder ganhar dobrado. Provavelmente eu estarei usando esse corpinho em outro lugar ou ele estará de férias”.
Áudio 2: “Tem dia que não vai bater nada. Aí vocês podem fazer o que quiserem, mas se atentem nessa divisão para não ter furo, que, provavelmente, a gente vai usar esse corpinho para outro lugar”.
Perceba o tamanho da fraude, que, segundo a fonte, conta com a anuência de pessoas poderosas na Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).
Nos áudios, o anestesista fala em ganhar dobrado sem prestar serviços e que até estando em “férias” há médicos constando nas escalas de plantões.
Na Maternidade Bárbara Heliodora, por exemplo, há esquemas todos os dias.
Para se ter uma idéia, um médico que se autodenomina “Antigão” está na escala 24 horas diariamente, praticamente todos os dias da semana, chegando a ficar de forma ininterrupta até 6 dias seguidos de “plantão.
Não é preciso ser nenhum gênio para se perceber que seria humanamente impossível cumprir tal escala e que esses plantões não são de fato realizados.
No fim do mês, porém, os valores desses plantões são recebidos pelo profissional.
Esse mesmo médico, segundo fonte, está acostumado com a situação, pois, há muitos anos, controla a escala dos anestesistas da maternidade, onde sempre há dois deles na escala, mas só fica um presente, enquanto fica “voando”, curtindo a grana.
Pode um negócio desse?
Este Portal tem diversas escalas, comprovando que, literalmente, é descumprida uma lei básica da física, que um corpo não pode ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Por meio dessa fraude, cinco médicos anestesistas faturam até R$ 100 mil em lucro, cada um, fora o que ganham com dois contratos com a Sesacre, o que equivale a mais R$ 40 mil.
Mas como isso é possível?
Em primeiro lugar, há a conivência da Sesacre, que parece temer os médicos. O Portal tem troca de mensagens e áudios entre os interessados.
Em segundo lugar, o governo do Estado, por meio da Sesacre, não fiscaliza, com o devido rigor, o contrato firmado com a empresa Sindor – Serviço Interdisciplinar de Controle à Dor.
Firmado por meio de dispensa de licitação, o que é praxe no governo, o contrato tem o valor global de R$ 18,9 milhões.


Segundo uma fonte, o lucro obtido pelas manobras ilegais é concentrado em apenas cinco médicos.
“Só pra se ter uma ideia, esse cinco racham mais de 75% de todo faturamento”.
Com exemplo, um dos anestesistas, que é o autor dos áudios acima, geralmente às quintas-feiras está no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb).
Ocorre, que no mesmo dia e hora, com certa frequência, também aparece como se tivesse na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), nas escalas médicas dessas unidades.
Sigamos.
O mesmo médico, ao menos uma semana por mês, supostamente atende no Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul.
O problema é que o mesmo “corpinho” que está a 620 quilômetros de Rio Branco consta nas escalas de plantão no Huerb e na Fundhacre.
O bolso existente no “corpinho” do rapaz, frequentemente recebe uma média R$ 15 mil por dia, haja vista que um plantão bruto da empresa é R$ 2.350,00, chegando a uma média de R$ 2 mil líquidos.
Através da cobrança multiplicada de plantões e operando o milagre de estar em dois ou mais locais ao mesmo tempo, se chega a essa quantia vultosa.
Os médicos do esquema fraudulento costumam fazer um plantão, mas embolsam 2,5 plantões durante o dia e mais um plantão noturno, estando em casa, de “sobreaviso”.
“Sem contar que usam a empresa para burlar o Fisco, aumentando os ganhos, com distribuição de lucro, para pagar menos impostos”, comenta a fonte.
Fim do ano passado
Segundo a fonte do Portal, até o fim do ano passado, havia um certo comedimento de práticas ilegais, mas as coisas passaram a ter conotações absurdas desde então.
Documentos obtidos pelo Portal revelam que houve ganhos substanciais desde então, com médicos passando a ter lucro superior a R$ 100 mil.
Ganhos extras em hospitais particulares acontecem também nos mesmos horários em que deveriam estar no seus contratos públicos ou pra empresa Sindor na assistência a população acreana.
Se os órgãos de controle saírem do estado de anestesia, basta percorrer às unidades de saúde para comprovar as irregularidades, pois os médicos não camuflam o que fazem.
O médico autor dos áudios que abrem este texto embolsou R$ 90 mil, na Fundhacre e Maternidade, pela empresa Sindor, fora seu contrato público pela Sesacre e seus ganhos no Hospital Regional do Juruá, ultrapassando facilmente a cifra de 100 mil reais por mês!
Há uma suspeita aproximação entre os gestores e os responsáveis pela empresa. O Portal tem documentos que atestam essa proximidade.
Responsáveis pela empresa também combinaram reportagem com site governista para pressionar o governo a pagar dívida de R$1 milhão. O Portal tem print de conversa e áudio sobre isso.

Esse esquema de poucos ganhando muito sem trabalhar traz consequências diretas à população, que fica numa agonizante fila de espera por uma cirurgia.
Gulosos, esses cinco profissionais abominam qualquer tentativa de trazer outros anestesistas para reforçar o atendimento.
“O gasto com ele é como se tivessem vinte anestesistas atendendo”
O contrato tem previsão para se encerrar em abril do próximo ano. Há informações de que a empresa está enquadrando os gestores da Sesacre por estarem procurando preço mais baixo com empresas de fora.
Resta esperar que as denúncias sejam apuradas. Não é difícil conseguir as provas.
Entenda como funciona o sistema
A Rede Assistencial do Estado conta, atualmente, com dez unidades hospitalares dotadas de centro cirúrgico, bem como um quadro de profissionais de saúde capacitados a executar procedimentos cirúrgicos em diversas especialidades médicas.
Apesar da estrutura existente, esta ainda é deficitária para atender a da demanda atual, dados de dezembro de 2O2O do Complexo Regulador Estadual/Central de Regulação de Cirurgias, apontam que o Acre possui um total de 10.614 cirurgias eletivas fila de espera.
A situação de espera por procedimentos cirúrgicos eletivos foi agravada em 2020, em decorrência da situação de Pandemia de Covid-19
Houve o cancelamento de praticamente 90% de todos os procedimentos cirúrgicos eletivos de 2020.
Há no Acre, segundo o Conselho Regional de Medicina do Acre, 33 anestesistas em atividade em todo o Estado (atuando na rede pública e privada).